.Após a realização do Encontro Irmandades Negras e(m) museus, em 2023, o Museu Paulista da Universidade de São Paulo promove o Encontro Terreiros e(m) museus, como parte da sua programação da Semana da Consciência Negra. Entre os dias 28 e 29, no Museu do Ipiranga e 30 de Novembro, no Museu Republicano de Itu, estudiosos e detentores de saberes compartilharão conhecimentos e pesquisas sobre a materialidade sagrada dos terreiros nas coleções de museus, para além de uma perspectiva etnográfica ou folclórica.
O objetivo é que experiências como a guarda compartilhada da coleção “Nosso sagrado”, entre o Museu da República e os povos de terreiro (POSSIDONIO; VERSIANI 2022), bem como a curadoria da coleção Zaira Trindade no Museu Histórico Nacional, coordenada pelo pai de santo do Candomblé Tat’Etu Lengulukenu (LENGULUKENU, 2022) inspirem e fortaleçam metodologias e práticas de historicização e identificação de objetos sagrados de religiões de matriz africana presentes nas coleções de museus de história, a exemplo da “Coleção Sertanejo” (LARANJEIRA, 2017) preservada no Museu Paulista e no Museu de Arqueologia e Etnologia, ambos da Universidade de São Paulo.
Oriundas de apreensões policiais que criminalizavam a prática religiosa afro-brasileira, principalmente entre finais do século XIX e princípios do século XX, mas também de doação feita pelos próprios devotos, essas coleções merecem outros olhares e outros sentidos, para além daqueles atribuídos quando foram adquiridos pelos museus. A produção do conhecimento compartilhado sobre esses objetos, segundo uma epistemologia da encruzilhada (RUFINO, 2021), contribuem para que se qualifiquem e ressignifiquem artefatos, atribuindo-lhes valor documental para outras escritas da história em museus.
Histórias do povo preto que foi e tem sido marcada pela criminalização, pelo silenciamento e pela negação e que podem girar para o reconhecimento de potências e protagonismos, em sintonia com as atuais produções historiográficas e com as demandas sociais por memória e reconhecimento.
Espera-se que este evento aproxime os povos de terreiros do Museu Paulista – como tem sido a aproximação com as irmandades negras, em trabalhos de identificação de objetos e pessoas representadas nessa instituição. Que contribua para promover e fortalecer parcerias e possibilidades de produção historiográfica afrodiaspórica nos museus, fundamentada em pesquisas interdisciplinares e interinstitucionais, bem como nas práticas de curadoria compartilhada. Espera-se assim, que os museus possam, em sua atividade cotidiana, contribuir para o cumprimento da Lei 11.645/2008, que torna obrigatório o ensino de história e culturas afro-brasileiras e indígenas, combatendo o racismo religioso e as perseguições a terreiros que, infelizmente, ainda são manchetes nos jornais.
INSCRIÇÕES
Últimos dias para se inscrever no “Encontro Terreiros e(m) Museus”, que acontece em 28, 29 e 30 de novembro.
A programação começa no Ipiranga, no dia 28/11 às 17h, com uma palestra de Reginaldo Prandi sobre religiões afro-brasileiras e mediação de Solange Ferraz de Lima, seguida do lançamento de seu livro “A morte e o menino sem destino”, às 18h30.
O segundo dia começa às 10h, também no Ipiranga, com a roda de conversa “O sagrado em museus, experiências compartilhadas”, coordenada por Aline Montenegro Magalhães, com quatro convidados ilustres: Rogério Elisiário, Eduardo Possidonio, Lia das Laranjeiras e José Adário dos Santos. À tarde, haverá um roteiro guiado pelo bairro do Ipiranga, conduzido pelo escritor Abílio Ferreira.
No último dia, 30/11, as atividades ocorrerão no auditório do Museu Republicano de Itu, com a roda de conversa “Os terreiros na encruzilhada dos museus”, com Lucas Marques, Alexandre Araújo Bispo, Aline Zanatta, Sabrina Souli e mediação de David Ribeiro.
O encerramento da programação será marcado por um depoimento de Maria Natalina Pereira, que lidera o grupo Samba do Bumbo de Itu, e por uma apresentação musical com os novos integrantes deste grupo, que retomou as atividades em abril deste ano, após décadas de inatividade.
PROGRAMAÇÃO
28/11 – Museu do Ipiranga – São Paulo
16h – Credenciamento
16:30 – Abertura e boas-vindas
17:00 – Conferência de abertura “Religiões afro-brasileiras: memória, registro oral, acadêmico-literário e material”, com o professor Reginaldo Prandi (USP)
Debatedora: Solange Ferraz de Lima
18:30 – Lançamento do livro “A morte e o menino sem destino” de Reginaldo Prandi, com sessão de autógrafos com o autor.
29/11 – Museu do Ipiranga – São Paulo
Credenciamento às 9:00-10:00 com Coffee
10:00 – 12:00 – Roda de conversa: o sagrado em museus, experiências compartilhadas.
Rogério Elisiário – (Tat’Etu Lengulukenu – Inzo Unsaba Ria Inkosse)
Eduardo Possidonio (UFRRJ/IPN)
Lia Dias Laranjeira (UNILAB)
José Adário dos Santos – (Zé Diabo,babalorixá e ferreiro de orixá)
Coord. Aline Montenegro Magalhães (MPUSP)
12:00 às 14:00 – Almoço
14:00 – 18:00 – Roteiro negro no bairro Ipiranga com Abílio Ferreira – Museu de Território José Correia Leite.
30/11 – Museu Republicano de Itu – Itu
9h – Credenciamento
9:30 – Mesa de abertura e boas-vindas
10:00 às 12:00 Roda de conversa – Os terreiros na encruzilhada dos museus
Lucas de Mendonça Marques (USP)
Alexandre Araujo Bispo (MAM SP)
Aline Antunes Zanatta (MRCI-MP/USP)
Sabrina Souli (Secult Itu)
Debatedor: David Ribeiro – (MP/USP)
12:30 – 14:00 – Almoço
14:00 – 15:00 – Depoimento de Maria Natalina Pereira (Samba de bumbo de Itu)
15:30 – 16:30 – Encerramento com apresentação de samba de bumbo (com coffee)